domingo, abril 30, 2006

Fazer ou não fazer? Eis a Questão

Dentro de um ônibus mais de quatro horas por dia é tempo suficiente para observar muitas coisas, inclusive quem gosta do que faz e quem faz por que é preciso fazer. Poderia citar várias frases que já ouvi nessas “viagens” da faculdade para casa, do trabalho para casa, mas isso não deixaria mais rico esse depoimento, não mais do que os fatos em si. É muito mais fácil reclamar e continuar sentado no mesmo lugar, mexendo somente os lábios para blasfemar sobre as situações. Existe muito desemprego, porém meu emprego está ruim, não quero mais; ganha-se muito pouco, porém, vou comprar um ipod para ouvir dez horas seguidas de músicas em mp3. Por outro lado vejo um senhor, em torno de 60 anos, motorista de ônibus a mais de 20 anos (com certeza!) com sorriso nos olhos e na voz, dando “bom dias” e “boa tardes”, parando fora do ponto e esperando que velhinhas desçam e coloquem os dois pés na calçada (coisa rara de se ver ultimamente). Ele se importa com o baixo salário que ganha? Sim, claro que se importa, mas isso nunca o fez reclamar e derrubar passageiros em curvas bruscas, mas sim, levar com sobriedade já que a vida nos é tão pesada todos os dias. Eis a futilidade de ipods contrastando-se com o dia a dia do Sr. Raposa, o motorista. Até hoje não soube o porquê de seu apelido, mas o importante é a lição que nos dá cada gesto de simplicidade com que leva seus passageiros. Num país onde um quer derrubar o outro, Sr Raposa espera que todos seus “convidados” se segurem para que possa dar partida. Vê-se a selva em que vivemos todos os dias, e todos os leões que derrubamos cada vez que cumprimos metas, prazos e horários. Superando expectativas, fazendo o que devemos fazer muitas vezes pelas cifras que estarão em nossa conta bancária todo mês. Se continuarmos sentados como espectadores nunca faremos a diferença mesmo, mas se tirarmos os fones do ipod dos ouvidos, as amarras e as vendas dos olhos, iremos procurar e fazer sim o que gostamos, derrubaremos muito mais que leões, seremos “Senhores Raposa”, com prazer, responsabilidade e profissionalismo, faremos o certo e quem se opuser, eu compro a briga!

Bia Pissardo
Estudante de Jornalismo
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